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Rômulo e o desprezo pelo melhor futebol do Piauí

quarta-feira, 14 de setembro de 2011



Piauiense Rômulo chega à seleção brasileira. Um tal Joniel poderia ter chegado

Rômulo Borges Monteiro, simplesmente Rômulo, nasceu em Picos, Piauí, no dia 19 de setembro de 1990. Aos 20 anos de idade, conquista em pouco tempo no futebol profissional a oportunidade de jogar pela seleção brasileira principal.

Convocado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para a reedição da Copa Roca (Brasil x Argentina, dia 14/09/11 em Córdoba e 28/09/11 em Belém), o piauiense, que defende o Vasco da Gama (RJ), até ficou surpreso em ser incluído na lista. Todos os convocados só atuam no Brasil e defendem clubes do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

É o terceiro piauiense que vestirá a camisa canarinho. Leonardo começou no Picos, passou pelo futebol pernambucano, fluminense, paulista e mineiro. Zé Maria, nascido em Oeiras, nunca jogou como profissional no Piaui. Rômulo, da mesma forma. Em 2005, um empresário levou-o ao Porto de Caruaru (PE). Em 2009, outro empresário bom olheiro, transferiu-o para o Vasco da Gama.

O Piauí sabe jogar bola. Em Picos muitos garotos estão tomando a estrada para Pernambuco, a primeira parada, sem que o próprio time da cidade (o Picos) e os da capital consigam segurar potenciais craques. A desorganização instalada no futebol piauiense nos últimos anos tem sido tão deletéria que Rômulo não terá a mínima obrigação de exibir a bandeira do Estado se vencer a Copa Roca.

Paulo Henrique Ganso, do Santos (não foi convocado porque está machucado), outro grande jogador da nova leva, conquistou a Taça Libertadores este ano contra o violento Peñarol do Uruguai e deu a volta olímpica no Pacaembu abraçado à bandeira do seu Pará. Lá, jogou futsal pela Tuna Luso e descobriu a vocação para o futebol de campo nas categorias de base do Paysandu. Foi levado ao Santos pelo conterrâneo Giovanni, ex-camisa dez no time da Vila. Ganso será a estrela do Pará na campanha contra a divisão do Estado, cujo plesbicito será realizado em breve.

Rômulo não tem a mínima obrigação de ser contra ou a favor da proposta de divisão territorial do Piauí, em tramitação no Congresso Nacional. O tamanho do seu orgulho de ser piauiense, se existe, ainda é desconhecido.

Tantos peladeiros em Teresina, no interior e no litoral que poderiam estar sendo aproveitados pelo futeobl piauiense. Foi dessa várzea nacional que surgiu o goleador Leandro Damião, 22 anos, do Internacional, companheiro de Rômulo na seleção. Até os 17 anos, ele só jogava peladas na periferia de São Paulo.

O futebol profissional não é um bicho de sete cabeças. Mas, as cabeças pensantes da federação e dos clubes no Piauí não são perspicazes. Desde o rebaixamento do Estado para a divisão mais inferior do campeonato brasileiro, em 1987, nenhuma reação profissional ocorreu no sentido de recuperar a autoestima e mostrar ao Brasil que há muitos Rômulos no Piauí, e que eles podem (até devem) sair da várzea para a vitrine dos times nativos.

Bons de bola - O IV Campeonato Brasileiro de Juniores de 1981, decidido em janeiro de 1982, é uma prova histórica de que o Piauí é bom de bola. À época não eram clubes que disputavam o título. Os Estados formavam suas seleções.

Para surpresa da CBF, o Piauí chegou à final contra o Rio Grande do Sul. Dois jogos, a ida no Beira-Rio, em Porto Alegre; a volta, no Albertão, em Teresina. Os gaúchos já tinham alguma experiência profissional. Os piauienses estavam à procura, com muita garra e técnica.

Os gaúchos venceram em casa por 3 a 1. Jogo transmitido ao vivo para Teresina por determinação do governador Lucídio Portella. Em entusiasmado pronunciamento, o governador prometeu concluir o Albertão (que ele chamava de olímpico porque Alberto Silva era seu inimigo. Em 1986, fizeram as pazes).

A cidade parou para torcer pelos seus garotos bons de bola. O Piauí dos já profissionais Sima, Bitonho, Derivaldo, Décio Costa, Nivaldo, Gringo, Cacá, Rui Lima (vendido para o futebol paulista, morreu no dia 9 de abril de 1982 vítima de um acidente automobilístico), Duílio, Indemburgo e tantos outros estava assistindo o surgimento de novos talentos.

No dia 14 de janeiro de 1982 o Albertão lotou para ver a partida decisiva. Com gols de Reginaldo e Osmari, o Piauí vencia por 2 a 0 até os 44 minutos do segundo tempo. Pedro Paulo tomou a taça para os gaúchos.

Jogaram pelo Rio Grande do Sul: Ênio, Pedro Paulo, Leandro, Eduardo e Moroni; Sírio, Dunga e Luís Carlos; Piava, Guilherme (Luís Fernando) e Baiano. O titular Branco não jogou em Teresina.

Jogaram pelo Piauí: Nelsinho, Carlinhos, Celso, Zezé e Valter; Osmari, Joãozinho e Miolinho; Paulinho, Reginaldo (Vieirinha) e Joniel.

A CBF não convocou nenhum jogador do Piauí para a seleção de base do Brasil. Dunga e Branco foram tetra-campeões de futebol em 1994, nos Estados Unidos. O técnico da seleção brasileira na Copa do Mundo da África do Sul de 2010 era Dunga.

Diz o presidente do Auto Esporte Clube de Teresina, o ex-zagueiro e professor Rosemberg Vieira Peixoto, o Bega: "Acredito que Joniel, Osmari e Celso tinham plenas condições técnicas de jogarem pela seleção brasileira juvenil. A ressalva é que eles careciam de intercâmbio com outras praças futebolísticas. Talvez por isso a CBF tenha preterido os piauienses. Por outro lado, a acomodação dos dirigentes do futebol do Piauí não gerou uma demanda para o reconhecimento pela CBF do potencial dos nossos atletas. Para você ter uma ideia, aceitamos quietos a queda do futebol piauiense para a divisão inferior quando tínhamos histórico de boas participações na primeira divisão. Não podemos ficar mudos, senão ninguém nos reconhecerá."

O comodismo piauiense ficou patente na recente intervenção da CBF na Federação de Futebol do Piauí (FFP). Bega pergunta: "O que os nossos dirigentes, parlamentares e governantes fazem a favor do resgate do nosso futebol?" Ele mesmo provoca: "Por favor, cartas para a redação."

Rômulo não deve saber quem é Joniel, o maior ponteiro direito de todos os tempos no Piauí. Jogando pelo Esporte Clube Flamengo, sua velocidade e balanço, meio Garrincha, faziam os defensores do River tremerem. Joniel deu muito trabalho a Dunga naquele 14 de janeiro de 1982. O garoto era bom de bola. Faltou o detalhe para chegar mais longe: o Piauí lutar de cabeça erguida, e, quando cair, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Sair de baixo e vencer exige muita força de vontade.

Fonte e foto: Acesse Piauí
Edição: CLICK LAN HOUSE

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